Grande Fonte

1 – Velhice
Grande Fonte passava pela cidadela de vez em quando, guiado pelo vento que vai carregando o mundão pelas frentes. Rodamoinho como só, gostava de ver as saias voarem e os chapéus andarem chamando seus donos no chão. E lá estava, a próxima da lista. Tá pra ser riscada. É cidade mimosa, 4 ruas transversais, umas miudezas no final da rua 3, parque e praça misteriosa... Por aqui, todas ouvem histórias pra dormir... Na cidade do sono todos viviam um sonho estranho de vez em quando...Sonho esse de ser grande e abraçar o mundo e pra água chegarem ao mar e deitar nas areias. Grande Fonte sonhava alto como os dedos do criador, mas ainda estava a catar os grãozinhos pelo chão empoeirado. Eu te falo, um dia chegaremos lá como ele chegou, espere só pelas águas que estão por vir. É céu e homem em comunhão. Um dia você irá à missa, por que não?! Não tenha medo, os lugares são por nossa conta...(conta-se devagar, aqui o relógio é criado mudo). Mas Grande fonte é essa, que passava devagar sempre andando na frente do caminho que a estrada fazia...Calor?! Nada, mas ele vinha com chuva em suas costas, numas nuvens pesadas e bem cinza-fofas, prontas pra lavar a terra da bagunça do meio-dia. Mas antes de tudo, paro pra tomar só mais uma dose. Quero ficar acordado e ver a estrada vazia.

2- Passagem
E as crianças que apenas brincavam de amarelinha? Eita, esse mundão ainda é o mesmo, mesmo que seja de mentirinha. Grande Fonte é uma mentirinha dos homens, mas é a verdade do mundo. É sempre assim, inicio seguido de casas, uma paradinha para um descanso. Preste atenção, pra os pés estarem plantados no chão, daqui pra frente pularemos em um pé só, pra tocarmos o céu grande e redondo, ainda que cinza chumbo. Ai mas que alívio! Vivendo e desfazendo, não é mesmo? Vivendo e construindo as pedras que rolaram da ribanceira e estão aqui. Cadê as crianças?! Eu gosto de ouvir voz pequena, risinho fácil. Não querem mais pular, querem correr pra ver as colunas de vento. Ouvi dizer que são sonhos, ouvi maledicência, mas uma pequena me contou que eram as faxineiras das nuvens. Mas que coisa Santa! Não quero criar história, eu sigo a linha da vida, aquela que a gente tem nas mãos pra ficar bem quietinho... Falar por demais alimenta muito a mente... A mente alheia, daí ficar vazio, é um passo. Tem gente que quer crescer mais que as casas, ir embora com o circo, mas ninguém fica pra ver o vento cantar. Gente com medo de ficar ai vagalumiando a estrada, mas gente com medo. É a cabeça lá procurando as pedras e o corpo aqui pra acenar quando precisa. Vai-te embora coisa de medo, essa cidade se soma pelas pedrinhas que as crianças brincavam. Casa a casa, um, dois até o céu dos que estão andando na terra. Grande fonte segue a pedrinha pelas casas até voar em piruetas pelo céu.


3- Chegada
Tá combinado então, vou lá e lavar as roupas nas pedras do rio. Nada de mais complicado, Grande Forte não precisa disso. A cidade mora na casinha número 1. E caminhada matinal, do que adianta? Estrada de terra que vai levando a roupa suja pra correr mundo a fora. Água é a corrente que vem pra colocar os homens de pernas pro ar. Se já ta pronto, a volta pra casa é tranqüila, mas suja os pés de barro. Ta tudo por aqui, o jornal da gente que vê. Cansa pensar, bom é ouvir a cantoria das mulheres na água. As moças cansaram de correr, os homens estão a pedir ajuda ao tempo. Grande Forte só mantém as redias da situação. Minha nossa, que povo descrente, todas as manchetes dos jornais são iguais! Cadê o que se foi agora? Bom dia, está na hora. Vai andando logo nos primeiros passos da rua. O dia está começando agora.


Menina de pano em letras simples

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