Carta sobre sentimento ou preocupação
Abro esse espaço pra dedicar a um grande amigo e poeta, do qual eu sou muitissimo fã. Te amo Rodrigo, você é o poeta mais perto do coração; de todas as horas amigas. Beijo querido.
Esse é um conto do Rodrigo... fiquem estaticos e maravilhados, como eu também fiquei.
Carta sobre sentimentos ou percepção
As vezes eu sonho e sonhando é como se existisse um abismo sob meus pés. Não pela sensação de cair, mas pela vertigem libertadora da morte que revela. Reveladora do nada a que eu me empresto enquanto te escrevo. Escrevendo eu não tenho abusões de vaidade e racionalidade, nem mesmo permito alguma coerência a mim mesmo enquanto te escrevo. Deixo-me guiar pelo sentido com que as palavras me chegam e ponto final. Não. Ponto final ainda é muita conclusão para o que eu sinto. Mas sei que o que venho sentindo não é nada. Assim, o que sinto é mais e é possível quando se faz presente diante da ausência angustiante. Mas nem mesmo essa angústia seria capaz de me dizer o que sinto, pois que angústia é, e muito reticente é, para que eu possa me atrever a recortes determinados a definir. Deixo estar somente pelo que me faz perdido na prosódia inútil do som articulado das palavras que estás lendo e peço que leia em voz baixa; quase muda. Peço que leia como quem abre a boca pra cantar uma letra que ainda não conhece. Peço que faça silêncio enquanto lê, mas que não leia de boca fechada.
O que eu tenho a dizer é tão pouco que não passa de simples vontade de dizer-lhe algo que é vazio e efêmero. Se não te dissesse, o efeito seria o mesmo, mas esse nada me faz escrever e ainda assim não deixa de ser nada. Mas não seria esse vazio algo que já me preenche completamente enquanto te escrevo? Não estaria assim passando a seu completo oposto? Não sei. Sinto, muito como alguém que telefonasse e não soubesse o que dizer. Ou pior: sinto, como se telefonasse, soubesse exatamente o que dizer, mas percebesse subitamente que a pessoa, do outro lado da linha, me fosse completamente surda. O que difere é que, nesse sentimento, sou eu quem tento falar comigo mesmo e não me entendo. Por isso falo pra você.
Ainda não espero concluir de forma concreta. Não queira entender o que eu te digo porque essa angústia é como todas as outras. Essa angústia é mais um sei-lá-o-quê labiríntico sem motivos. Não me queira definir assim como estou porque isso não é tristeza. Já disse: sei-lá-o-quê; e disso não há de passar. Quando acontecer qualquer faísca de percepção, hei de sucumbir a minha angústia em solução. Não, não pense em solução como ponto de satisfação. Saber é sempre imperfeito. Preferiria morrer duvidando a saber de todas as coisas; não consigo imaginar a penumbra tenebrosa que Buda carregava consigo ao desvendar o seu Nirvana. Preferiria morrer duvidando a ter certeza de algo que não posso ter certeza sem risco. Arriscar-se é parte da vida e eu não vivo de outra forma que não seja diferente daquela em que me condiciono a minha própria ignorância. Só assim eu consigo pensar e só por isso te escrevo. O que eu sinto ainda é um mistério em mim; mistério que eu sei muito bem que não quero desvendar, mas mesmo assim eu vou o decifrando parte a parte, vou percebendo que a minha sabedoria é tornar-me burro adquirindo consciência de coisas que me enriquecem. Se te escrevo é porque sou teimoso o suficiente pra derreter minhas penas coladas de cera perto do sol; escrevo porque tenho coragem de voar mais alto e cair como caio em meus sonhos acordando assustado nessa nossa coletiva realidade, embora essa coragem seja mesmo uma covardia de ficar e encarar o mundo como ele foi feito pra mim, tal qual um estorvo diante da vida que eu realmente queria levar.
Acho que começo a perceber, mas ainda existe essa angústia dentro de mim, ainda que eu comece a perceber aos poucos, essa angústia terá sempre seu tamanho infinito enquanto não houver desvendado por inteiro minha insatisfação com esse sentimento. Meu incômodo é tão puro que nem ouso submetê-lo a mácula de minhas conclusões precipitadas; só paro no final e somente no final é que eu pretendo desvendar a mim mesmo o fruto da minha angústia. Embora saiba muito bem que esse fruto... PRONTO!... PERCEBI!
Como não pude ter noção disso antes? Parece-me, agora, tão fácil, tão frágil esse mistério que já não existe. Agora eu já morro de saudades do meu hematoma de pensar inchado naquilo que eu não sabia. Como é que eu não pude perceber isso antes? Como não ter consciência da minha passividade? Sim, é essa a pequena solução tão menor e tão menos interessante que a minha questão. Passividade! Essa é a raiz da minha angúsita... Não. Não era angústia. Tudo o que eu senti foi não saber que estava triste por não descobrir, eu mesmo, que me deixava levar pela tristeza a um desconhecido tão interessante que me achava, então, enganadamente, angustiado. Mas angústia deixou de ser agora que o sentimento modelou-se em tristeza por alguma coisa que eu sei bem o que é. O fruto da minha angústia era apenas não saber porque me angustiava (e isso que era angústia, solucionado, tem gosto de coisas tristes). Esse é diminuto e desinteressante ponto final a que chegou a nobreza infalível do meu antigo sentimento misterioso. Digo: não me dá satisfação esse fio condutor, não me dá alegria esse descobrir o motivo da minha tristeza (como pude chamar isso de angústia?). Não, o que sinto não pode ser positivo, já que a ciência da minha ignorância me instigava mais. O que sinto não pode ter sido originado pela grandeza de não saber, mas sei que o é. E agora essa decepção! Se ao menos eu não lhe tivesse escrito...
Rodrigo T. de Siqueira
Esse é um conto do Rodrigo... fiquem estaticos e maravilhados, como eu também fiquei.
Carta sobre sentimentos ou percepção
As vezes eu sonho e sonhando é como se existisse um abismo sob meus pés. Não pela sensação de cair, mas pela vertigem libertadora da morte que revela. Reveladora do nada a que eu me empresto enquanto te escrevo. Escrevendo eu não tenho abusões de vaidade e racionalidade, nem mesmo permito alguma coerência a mim mesmo enquanto te escrevo. Deixo-me guiar pelo sentido com que as palavras me chegam e ponto final. Não. Ponto final ainda é muita conclusão para o que eu sinto. Mas sei que o que venho sentindo não é nada. Assim, o que sinto é mais e é possível quando se faz presente diante da ausência angustiante. Mas nem mesmo essa angústia seria capaz de me dizer o que sinto, pois que angústia é, e muito reticente é, para que eu possa me atrever a recortes determinados a definir. Deixo estar somente pelo que me faz perdido na prosódia inútil do som articulado das palavras que estás lendo e peço que leia em voz baixa; quase muda. Peço que leia como quem abre a boca pra cantar uma letra que ainda não conhece. Peço que faça silêncio enquanto lê, mas que não leia de boca fechada.
O que eu tenho a dizer é tão pouco que não passa de simples vontade de dizer-lhe algo que é vazio e efêmero. Se não te dissesse, o efeito seria o mesmo, mas esse nada me faz escrever e ainda assim não deixa de ser nada. Mas não seria esse vazio algo que já me preenche completamente enquanto te escrevo? Não estaria assim passando a seu completo oposto? Não sei. Sinto, muito como alguém que telefonasse e não soubesse o que dizer. Ou pior: sinto, como se telefonasse, soubesse exatamente o que dizer, mas percebesse subitamente que a pessoa, do outro lado da linha, me fosse completamente surda. O que difere é que, nesse sentimento, sou eu quem tento falar comigo mesmo e não me entendo. Por isso falo pra você.
Ainda não espero concluir de forma concreta. Não queira entender o que eu te digo porque essa angústia é como todas as outras. Essa angústia é mais um sei-lá-o-quê labiríntico sem motivos. Não me queira definir assim como estou porque isso não é tristeza. Já disse: sei-lá-o-quê; e disso não há de passar. Quando acontecer qualquer faísca de percepção, hei de sucumbir a minha angústia em solução. Não, não pense em solução como ponto de satisfação. Saber é sempre imperfeito. Preferiria morrer duvidando a saber de todas as coisas; não consigo imaginar a penumbra tenebrosa que Buda carregava consigo ao desvendar o seu Nirvana. Preferiria morrer duvidando a ter certeza de algo que não posso ter certeza sem risco. Arriscar-se é parte da vida e eu não vivo de outra forma que não seja diferente daquela em que me condiciono a minha própria ignorância. Só assim eu consigo pensar e só por isso te escrevo. O que eu sinto ainda é um mistério em mim; mistério que eu sei muito bem que não quero desvendar, mas mesmo assim eu vou o decifrando parte a parte, vou percebendo que a minha sabedoria é tornar-me burro adquirindo consciência de coisas que me enriquecem. Se te escrevo é porque sou teimoso o suficiente pra derreter minhas penas coladas de cera perto do sol; escrevo porque tenho coragem de voar mais alto e cair como caio em meus sonhos acordando assustado nessa nossa coletiva realidade, embora essa coragem seja mesmo uma covardia de ficar e encarar o mundo como ele foi feito pra mim, tal qual um estorvo diante da vida que eu realmente queria levar.
Acho que começo a perceber, mas ainda existe essa angústia dentro de mim, ainda que eu comece a perceber aos poucos, essa angústia terá sempre seu tamanho infinito enquanto não houver desvendado por inteiro minha insatisfação com esse sentimento. Meu incômodo é tão puro que nem ouso submetê-lo a mácula de minhas conclusões precipitadas; só paro no final e somente no final é que eu pretendo desvendar a mim mesmo o fruto da minha angústia. Embora saiba muito bem que esse fruto... PRONTO!... PERCEBI!
Como não pude ter noção disso antes? Parece-me, agora, tão fácil, tão frágil esse mistério que já não existe. Agora eu já morro de saudades do meu hematoma de pensar inchado naquilo que eu não sabia. Como é que eu não pude perceber isso antes? Como não ter consciência da minha passividade? Sim, é essa a pequena solução tão menor e tão menos interessante que a minha questão. Passividade! Essa é a raiz da minha angúsita... Não. Não era angústia. Tudo o que eu senti foi não saber que estava triste por não descobrir, eu mesmo, que me deixava levar pela tristeza a um desconhecido tão interessante que me achava, então, enganadamente, angustiado. Mas angústia deixou de ser agora que o sentimento modelou-se em tristeza por alguma coisa que eu sei bem o que é. O fruto da minha angústia era apenas não saber porque me angustiava (e isso que era angústia, solucionado, tem gosto de coisas tristes). Esse é diminuto e desinteressante ponto final a que chegou a nobreza infalível do meu antigo sentimento misterioso. Digo: não me dá satisfação esse fio condutor, não me dá alegria esse descobrir o motivo da minha tristeza (como pude chamar isso de angústia?). Não, o que sinto não pode ser positivo, já que a ciência da minha ignorância me instigava mais. O que sinto não pode ter sido originado pela grandeza de não saber, mas sei que o é. E agora essa decepção! Se ao menos eu não lhe tivesse escrito...
Rodrigo T. de Siqueira
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