Confessionário

Ultimamente as palavras que desatavam da minha cabeça em nós não achavam lugar no papel que eu estava pretendendo prega-las. Eram bolos e mais bolos de palavras unidas e sem sentido comum. Porém, hoje a paz se instalou na minha consciência. Ela conseguiu desatar a minha corrente de nós. Na verdade tudo começou quando assisti “Em busca da terra do nunca”. Foi como ver as notas de uma bela música saírem levitando do instrumento e se acomodando nos ouvidos, braços e olhos dos expectadores. Em algum momento a musica se torna você, abraçando as notas e a vibração das cordas batendo de encontro com os seus sentidos. Sua imagem então, sem querer, é a pintura detalhada do “sentir”. Eu só conseguia enxergar musica e poesia na tela do cinema. Tudo começou quando logo no inicio da sessão quando o “pai” de Peter Pan vê a reação de sua platéia chegar a ele literalmente como chuva de verão. Intensa e aborrecedora. A partir daí pensei “quer ver só, vou ver poesia em exposição”. Dito e feito. Passei duas horas me misturando entre a platéia animada da estréia de Peter Pan, brinquei de pirata e fui princesa dos 7 véus na corte do engraçadinho Rei Michael. Na realidade tentei diversas vezes fugir da magia do filme, porém a idéia de ser Wendy não me escapava da mente. Era mais forte que eu. Meu verdadeiro nome é "eternamente jovem" e usar as roupas de Wendy só deram asas a minha verdadeira fantasia. É como se fantasiar de acordo com a ocasião, porque é bom brincar de ser gente grande, pergunte ao criador de Peter Pan. E é ai que eu digo: Escolha agora. Decida agora ser criança antes que você se torne um por adulto completo. Tic-tac, o crocodilo que perseguia o capitão gancho era o toque dessa tal realidade de não ter mais tempo para ser criança. E qual é o objetivo de todos nós, mesmo os descrentes, num é o de encontrar a terra do nunca? O paraíso vislumbrante de fadas para uns anjos para outros. Somos a magia personificada, e isso já basta.
Para Mathilde, em “Eterno Amor”, o que bastava era encontrar o verdadeiro amor perdido em meio à guerra. Os nós provocados pelo filme de Peter Pan foram desatados pelo filme de Jean Pierre Jeunet. E a paz finalmente chegou se instalou no meu olhar. Pois a verdadeira poesia está nos olhos de quem vê. A poesia crua e simples, não tocada pelo senso comum. Sabe, você é o mestre, comando o ritmo da sua poesia. Rápida, lenta, melódica ou metódica. E mais uma vez meus olhos fizeram poesia para a tela. Mathilde através de cartas e investigações vai atrás de seu amor, aquele amor inocente e que crescia com o passar do tempo. Trompete para pedir socorro, imagens para chamar o amor e as mãos de encontro ao peito para sentir o coração de outro alguém. Vidas ligadas pelo sofrimento e pelo esquecimento. Esquecimento esse que colore em tons envelhecidos toda a seqüência cinematográfica. Nos créditos finais todos invariavelmente pareciam estar em comunhão fazendo uma oração. Todos presos pela beleza que ali fora descrita. Um a um, os espectadores foram saindo do cinema como se tivessem sido acordados pela realidade. Devo confessar que me segurei para não chorar em ambos o filme inteiro. Mas a partir de um determinado momento não agüentei. Chorei quando finalmente conheci a terra do nunca. Chorei quando conheci a personificação do amor de alguém. Engraçado, mas a cada cena eu me incrustava cada vez mais em Wendy e tentava me encontrar na fé e esperança de Mathilde. Grandes mulheres. Nelas consegui ver o exemplo de homenagem a mulher. Elas não desistiram de seus sonhos, por mais loucos que a principio pareciam ser. Sonhar e amar é pedir por mais.
E então depois de tanto tempo e tanta fé depositada no acaso (na imagem de um cachorro, trem, túnel) o amor sofria de uma doença que só tempo iria curar: A perda. Assim como Mathilde, Wendy esperou pelas adversidades de cabeça erguida. Como todos devemos fazer. Sentar e olhar para o horizonte e esperar, esperar, esperar.


Juliana – Do saxão “eternamente jovem”.

Dicas de poesia para os olhos:
Em busca da terra do nunca (EUA)
O fabuloso destino de Amelie Poulin (Francês)
Eterno Amor (Francês)
A princesa e o cavaleiro (Alemão)
Bem me quer, mal me quer (Francês)
Brilho eterno de uma mente sem lembranças (EUA)
Filhos do Paraíso (Iraniano)
Á flor da pele (Japonês)
Cinema Paradiso (Italiano)
Fale com ela (Espanhol)


Menina de pano é fã de Audrey Tatou (Eterno Amor)

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