Feminismo step by step (uh baby!)

Fui convidada por uma aluna do PIBID para falar sobre feminismo em uma escola. A escolha foi baseada em minha trajetória de pesquisas ligadas aos estudos de gênero. Segundo a proposta, meu ponto de vista forneceria uma visão acadêmica/científica sobre o assunto.
Diante de uma considerável platéia de estudantes do Fundamental 2 e do Ensino Médio, perguntei, respondi, brinquei e falei sobre o papel da mulher na sociedade atual. Mencionei que desde a antiguidade até os dias atuais noções sobre controle e violência foram empregadas para lidar com as mulheres. Falei que a luta do feminismo, na realidade são as lutas dos muitos feminismos (negros, indígenas, trans, etc) - mas que todos se baseiam na igualdade de direitos e oportunidades comumente oferecidas aos homens. E que o feminismo anda de mãos dadas com outros movimentos, como o movimento negro e o LGBTQ. Afinal, todos gostariam de andar em paz na rua sem serem incomodados. Apenas gostaríamos de ser.
Apesar da linguagem simplificada e adaptada para a idade dos adolescentes, foi possível constatar como é difícil conversar sobre tema. Isso porque, de maneira geral, há: uma incompreensão conceitual - o que é feminismo?; o desconhecimento de seus sub-grupos, objetivos e lutas; uma confusão entre feminismo e femismo; influências familiares, religiosas, políticas e ideológicas que tendem a corromper a racionalidade do argumento em favor de um pensamento indutivo. Ou de um pensamento que transforma a exceção em regra. Em um só frase: a falta geral de esclarecimento sobre o tema e, acima de tudo, de um debate franco e aberto.
Na síntese, a proposta do feminismo é tocar em temas tabus, difíceis de serem discutidos sem que tenhamos um mínimo de embate. A sexualidade, a representação social e as disputas de poder cultural, econômico e político geram discussões acirradas porque são dogmáticas - foram se estruturando em cima de verdades absolutas. Essas verdades absolutas caem por terra, ao percebermos que, ao olhar para o "outro", talvez seja possível enxergar outras verdades, outros valores, outras concepções, diferentes das nossas. E que lidar com o "outro", em um momento de formação de Democracias proto-ditatoriais e da higienização do "diferente", é um desafio.
Pensar sobre feminismo é relativamente "simples". Requer apenas esclarecimento e reflexão sobre uma demada social, a partir da pergunta que não quer ser calada:
O que é ser mulher? O que é se identificar com o feminino?
Agora imagine as discussões sobre Gênero?! Aí sim as coisas ficariam complicadas. Pois se o feminismo é um tema complexo, o gênero é 10x mais. Não só porque envolve a relação e tensões entre homens e mulheres, mas porque questionaríamos: O que é ser homem? O que é virilidade? O que é masculinidade? Esses também são temas tabus não questionáveis. O desconhecimento, que já é grande, se ampliaria, abrindo um fosso entre eu e alunos. Até porque esses meninos e meninas estão muito distantes das discussões com as quais me envolvo. Nunca ouviram falar de Joan Scott, Judith Butler, Rachel Soihet, Margeret Rago, Simone de Beauvoir. Nem precisam. Eles precisam mesmo é saber interpretar a realidade a sua volta, e que o feminismo, na sua concepção mais básica, pode ser uma das chaves de interpretação.
Esses meninos e meninas ainda não conseguem olhar para o lado, e ver que existe um quintal muito além do muro que separa o respeito e a compreensão da ignorância e do desconhecimento. Que as discussões sobre feminismo são somente o começo dos questionamentos sobre a ordem atual do mundo. Quando se derem conta, as placas e camisas escritas "Bolsonaro 2018" que vi serem exibidas com orgulho durante minha palestra prontamente deixarão de existir.

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