Cinerama
Denis Villeneuve compreende com exatidão o papel das ciências humanas como aquela que dá sentido a experiência dos homens na terra. E em específico o papel do historiador como investigador primordial para essa eterna busca.
Em o Homem Duplicado, um historiador é o próprio objeto de análise, dando a entender que o dificil distanciamento histórico de nosso escopo é um desejo que nunca se completa - o desejamos, porque precisamos dele para entender a realidade, porém o queremos distante, pois almejamos vê-lo por completo. Estamos imersos no fluído dos fatos, subjulgados pelos acontecimentos, e a separação entre o real e o aparente é um exercício de sobrevivência. Esse é o fim útil, o principal trabalho das ciências, quaisquer sejam.
Em A chegada, uma belíssima ode a ciência (humana), indica que trabalhamos em prol de compreender o "outro" a partir do diálogo das singularidades. Para isso, precisamos utilizar a nosso favor diversos elementos da cultura, principalmente a linguagem, a memória e o passado para nos fazer entender. E para entender as necessidades do próximo. Esses elementos definem o que somos como humanos e, de maneira geral, define as ciências humanas.
Em Blade Runner 2049 o papel da memória é preponderante. E talvez por isso, para muitos, o filme é tido como chato, cansativo e lento. Ele define exatamente o processo de (re)lembrar, de como uma memória se constrói. E isso é um trabalho longo, cansativo e cotidiano. Se pensamos, logo existimos, a memória relembra a todo momento a própria existência. E nós existimos porque lembramos. Ainda que de maneira difusa, irreal, deturpada, modificada pela imaginação (outro importantíssimo elemento que aparece em todos os filmes, pois é preciso imaginar para conceber algo abstrato, desconhecido), nos definimos pela construção cotidiana do passado e das experiências vividas até aqui. Sejam amores, dores, ressentimentos, alegrias próprias ou o que você (ou outros) escolhe para si.
Comentários