Mulher Mulher Mulher!


Num monumento funerário do IV séc. a.C em Menidi (antiga Acharnai), a parteira e médica Phanostrate de Melite (cidade) é homenageada por seus feitos em vida. Desde a descoberta, a peça foi interpretada de diversas maneiras: Phanostrate deveria ser filha ou esposa de algum indivíduo da cidade de Melite, pois era prática comum em diversas poleis gregas (principalmente a ateniense), a associação da mulher com o seu kyrios (responsável/representante legal - marido, familiares masculinos, etc); a suposição de que ela era escrava da cidade de Melite e pertencia a um homem de Acharnai; a possibilidade de ser viúva de um homem de Melite e ter se mudado para Acharnai, passando a viver sozinha de maneira independente.
Mas porque devemos supor que a vida da médica tenha necessariamente passado por qualquer tipo de respaldo ou validação masculina? 
Quando olhamos para a estela de mármore, de pronto identificamos: Na interpretação literal da escrita a médica não foi associada a nenhum homem, somente a uma cidade (Melite). Ao contrário, seu nome está associado a uma outra mulher, Antiphile (companheira de profissão? assistente? filha? amiga? companheira afetiva? uma representação idealizada do feminino? - não interessa, o que vale é identificar sua importância na vida de Phanostrate, já que está presente na peça), que figura sentada de frente para a médica, junto de três meninas e um bebê de sexo não identificável (referências a sua profissão). É interessante notar que a homenagem indica que Phanostrate "não causou mal/dano a ninguém", sugerindo sua competência e habilidade profissional. Porém a passagem também pode ser interpretada como uma referência aos escritos de Hipócrates (On winds, 1) sobre as habilidades úteis para si e para o bem comum.

Um estela sobre mulheres com mulheres diretamente da Antiguidade. Estamos na estrada nos apoiando à séculos, só não vê quem não quer. E durante séculos não quiseram. Porém, certas coisas na vida existem mesmo que não se queira ver. E nós existimos.
OBS: Phanostrate foi tão importante na região que recebeu outra dedicação (estatuária) feita por uma mulher em agradecimento por seus serviços ginecológicos.

Comentários

Postagens mais visitadas