Rezadeira

Eu me sentia cansada, mas era só mais um dia, só mais um não faz mal. Faltava na mesa um pouquinho de tudo, inclusive da minha rígida presença. Ninguém cedia, nem o papel, nem o computdor, nem as canetas espalhadas displicentemente com suas pontas nuas. Me senti nervosa. Eu sentada, sentia que as palavras estavam ali para serem escritas e também agredidas, tanto por mim, carrasca impiedosa da palavra e prostituta da letra quanto pelo mal estar das coisas ao redor. Era feio ver a péssima composição da mesa. Era quase um beco de cortiço. Mas enfim, eu me esforço para me sentir em casa e confortável. Digo oi, como vai você? E as respostas quase sempre são as mesmas. Eu vou bem, to bem, tudo normal. Eu costumava a cantar algumas musicas, mas esse era um dia bem errado. Só pensava nas palavras que eu gostava e das quais não entendia significado algum. Elas ocultavam com suas mascaras e fantasias seus gloriosos significados. Mas quem ta na dança se molha e cria musica só com um passo, então resolvi deixar por minha conta a criação das sete palavras. Assim-assim (como amo essa palavra, não percebe? Tudo é assim-assim, sem vaidade, sem pressa apressada que é vicio corpóreo de alta significância em alguns estágios da vida), ora (perfeição em três letras) e a mais nova paixão da minha vida, mentira. Eu sou assim, porque a vida me fez...mentira. Eu gosto de ficar em silencio absoluto...mentira, Eu gosto de não estar nem aí (outra palavrinha de minha posse.. nem aí; essa insignificância das coisas é quase blasfemica).
Mentir é caso de bom gosto, e de bons modos. Eu sempre tenho a preferencia pela mentira. Ela é a verdade que sai muito bem prescrita e sem letras de garrancho. O mundo fica mais embaço sem eles...isso porque a verdade nem sempre é o que convém. A mentira são os meus oculos.
Eu gosto de mentir ( mentira...), e minto sempre que posso em conjunto, mas consegui descobrir que alguém mente mais que eu. Todos os dias ele mente descaradamente-rindo das letras que fala. Um dia ele ficou embreagado. Motivo: mentiu demais. As mentiras eram sinceras e de bom coração... E foi mentindo tanto acabou proferindo mentiras verdadeiras...Admiro essa coragem. Um dia chego a ser assim, uma mentira verdadeira.
Né?! Ai, quer coisa mais complicada que essa palavra? A perfeição cada vez diminuída... Chega...Eu fico por aqui, resumindo essas palavras ricas de nenhum significado e transformando tudo no elixir do carpe diem aqui presente a mesa, nessas ordens de comando (de tão finos tratos). Minha palavra não é compromisso, é impropério (empecilho expansionista). E de todos os desgostos que ouvi e li nos últimos tempos, digo que a ajuda vem encoberta... aquela que te conta a verdade dos fatos. Aquela que vem de dentro, seja lá onde for e com os bons modos, joga as cartas na mesa, e manda você ser o dono do jogo. Na realidade, sempre faltaram cartas, mas como os magos do ilusionismo, sempre se tem cartas nas mangas... tanto pra uma mentira verdadeira quanto pra um punhado de palavras as quais eu me vendi. Eu não quero tratos, mas sim tratados. Começo então, servindo um bom prato a essa clientela cativa. Sirva-se bem. Especialidade da casa? Essa que está na mesa, vendida por palavras e degustada com disfarçada devoção. Agora por favor, fiquem a vontade, meu trabalho ta apenas começando e eu estou tratando apenas de limpar a bagunça.

Menina de pano pratica colagens de jornais e pensamentos.

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