Oh o gás!
Coisas aparentemente banais ajudam a pensar coisas não banais, como os mecanismos de funcionamento de metodologias históricas com as quais o pesquisador é obrigado a conviver. Pois bem, estava eu rindo como uma hiena vendo o vídeo dos funcionários da Ultragaz dançando o funk "Oh o gás".
De repente me peguei pensando "fizeram um funk com a irritante música do gás, transformando os gritos igualmente irritantes dos vendedores em uma coisa engraçada". Isso me lembrou Michel de Certeau e sua famosa proposição - táticas X estratégias, pois o funk durante muito tempo (e talvez até hoje, porém com menos intensidade) foi o simbolo da contracultura Carioca. O funk pode ser visto como uma das táticas dos "mais fracos" (dos homens das periferias, dos despossuídos de poder) contra a estratégia institucionalizada de gravadoras e da MPB, do rock, do pop, etc.
Uhhhhh... Nesse caso, o funk funcionaria como uma dulpa tática: como contracultura e como resposta pública a imposição pública de um bem de consumo em forma de sátira ("vamos sacanear aqueles caras que fazem a gente ouvir todos os dias a música do caminhão de gás"). O que é do povo, ao povo pertence.
Não demorou muito e veio a resposta de quem está no comando das instituições (o Gás): "Ahm é? Bora usar isso a nosso favor!"
E assim surge a aglutinação da tática pela estratégia. Aí surge o vídeo dos funcionários da Ultragaz dançando, zuando e nem aí pra isso (aháaaa tem funcionário zuando e não dando bola, olha a tática aí minha gente!)
Provavelmente haverá uma reconfiguração de táticas e estratégias nesse duelo entre o Povo e o Gás. A aglutinação estratégica desarma as táticas, pois ri de si mesma com a risada de quem ri de você. Qual o próximo passo do Povo? Novas táticas, provavelmente. Táticas que ridicularizam, debocham, escarnam ou ignoram tudo isso... em um inception eterno na guerra entre táticas e estratégias.
Pensem em outros exemplos, como a "cultura Nerd". Ser Nerd na década de 1980 e 1990 não é o mesmo que ser Nerd em 2017.
Poque será?
Gente, falei isso tudo por causa do gás. Que coisa maluca.
De cientista maluca (só que não).
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