Antiquário

Para aqueles que não leram, aqui está Antiquário, uma nova peça do meu armário em constante desordem.


As motivações do mundo me convencem de momentos em momentos. É como se fosse uma espécie de alterego do mundo para tornar-se convincente aos olhos dos seus possuidores, diga se de passagem, em reinados de dias longos. Somos então, esse alterego de massa, trabalhando 24 horas por dia para tornar tudo perfeito. Estou impressionada, vivamente interessada em entender porque afinal fazer parte dessa brincadeira de esconde-esconde é tão importante assim. Uma hora estou de cara para o mundo, ele meio arredio, eu desafiadora, ele lindo, brilhante e simples, como aquilo que sonhamos ter, em um dia de verão. Então ao olhar pro lado tudo é simplesmente complicado, e das condições, nos vivemos aos montes. Somente isso se aquilo, somente aquilo... de como as coisas devem ser. Em termos e condições já premeditadas, eu não me faço de rogada. Então me pronuncio em guerra e sozinha, vou à luta. Em oposição, dou as costas para o mundo, sentindo uma leve pontada de um enjôo que não passa, me levando a perder as tentadoras raízes da compreensão. Não sei se é certo, mas momentaneamente perco a noção de quem eu sou aqui... Agora. Nesse momento exato. Olho-me no espelho e a percepção de que as coisas deveriam e estariam no mesmo lugar me confunde e antes que as entenda, vão embora. Nasce de frente para o espelho, convincente aos meus próprios olhos uma escolha, feita por mim, da maneira como os meus novos pensamentos se ajustam a realidade de uma visão. Estranho, parece ser, mas a realidade a volta está intensamente vazia de multidões e dimensões. Torno-me uma espécie de quebra galho das funções deficientes: ajusto as fissuras dos não vizinhos, não carros, não avisos, não anúncios, não prenúncios. Sair do casulo em uma inércia nem terrena, nem tanto libertária é tão estranho quanto olhar para a rua e ver que todos estão recolhidos em suas próprias satisfações predatoriamente iconoclastas. São piscinas de bolhinhas, camas elásticas e um picadeiro que ninguém desce até ser empurrado, por vontade, credulidade, parcialidade. A vida é uma palhaçada de palhaços mudos e humildes de risos, com os rostos pingando pela beiradas de seus defeitos estarem, em plena consciência, negados. Inebriante, de fato, até porque tudo está em perfeita ordem. E fazer feliz, e ser feliz é uma brincadeira divertida, no qual ser pago e pagar na mesma moeda, num ciclo de apresentações, torna o efetivo muito convincente, a apenas alguns reais na bilheteria ao lado. A vida é o picadeiro da vida. Vejo então, esse picadeiro a me deixar com medo de altura, incessantemente. São risos, brincadeiras agitadas e coloridas feitas de mãos dadas e olhos fechados. Assim como lutar contra o mundo, o circo é o teste para ser merecedora de boas notas. O espelho volta à cena. E a guerra possui várias armas. Picadeiros, homens e mulheres gritando, as minhas costas ao mundo, sendo que a luta mesmo iniciada nunca começa, de fato. É como ter o invisível a colocar todas as cartas na mesa, abertamente inquisidor. Iniciar não significa seguir em frente, mas sim dar chance de serem testadas as armas antes de serem usadas na batalha. Nada de fardo por armaduras, na suspensão da razão, tudo flutua em intima satisfação. Minha arma, minha mente e essa guerra, terminam todos os dias, quando vou dormir. Ser alheio ao mundo por tempo indeterminado exclui as possibilidades, mas enfim, estando fora, há a possibilidade de existirem outras até então a margem. Prece e oração antes das lutas, da coragem a sorte. Amém ao mendigo, pai de todas as margens do mundo. Alheia ao mundo, está uma consciência que compartilhamos ao fechar os olhos e piscar, mas da qual, minha vida parece preencher todos os seus receptáculos, fazendo de mim, seu gineceu. Minhas costas viradas agradecem há quem sabe um dia, a paz que voltará a reinar na guerreira do espelho. De longe o inimigo é o meu eu negado por direito, me esperando por um dia de sol. Por enquanto a vida solda partes desconexas de guerras e circos até apresentarem um aspecto de novas motivações, e enquanto a inércia? A inércia vai bem, muito obrigada por ter perguntado.

Juliana Magalhães codename Menina de Pano

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