M.O - Medo Ocasional
Pois é, descobri a pouco tempo que sofro de uma doença chamada de Medo Ocasional. Não, ela não é famosa e com certeza nunca saiu na capa de nenhuma SuperInteressante, ou da revista Veja como se fosse comercialmente interessante, já a partir da capa, denuncia-la a humanidade crente de verdade como sendo a praga do século. Sensacionalismos a parte, eu, matrona deste inovador diagnóstico, sofre dos malefícios da doença em momentos espaçados. Sintoma mais constante nesses últimos tempos: Medo de escuro. Aliás, diga-se de passagem, o meu medo ocasional, de escuro, por exemplo, é motivo de gozação por parte da família. Numa noite em que a família estava reunida na sala conversando, o assunto surgiu em alguma parte da conversa, e eu em sincera devoção ao meu diagnóstico quase cuspi a verdade na cara dos presentes.
Sim, eu tenho medo de escuro, às vezes mais tenho! Pronto acabou, num doeu e sim vão rir da sua cara de otária chupando dedo, esperando pelo doce da vez, no caso a retórica familiar. Minha mãe, com ares de surpresa pela besteira que havia acabado de falar, simplesmente disse: Que isso menina, tem nada, você nunca teve medo de nada, desde pequena, nunca teve medo do Jason que você via quando era moleca, depois de esperar todos dormir... Meu pai foi pior. Riu da minha cara e ainda deu uma queixadinha claramente recriminatória “Que medo de escuro nada, ela num quer é fazer isso”.
Ai você diz, perai... Posso?! Mas será que não é permitido sentir um medo bobo? Tenho medo de escuro sim, porque cresci, porque criança não tem medo de nada em sua linda e pura inocência que chega inclusive a tocar o engraçado escuro, fazendo-o de amigo a cada porto, com a chegada da dor, do amigo que descobriu o esconderijo do pique, do beijo escondido. Crianças não enganam o escuro para viver nem inventam o fogo e a luz pra fugir dos monstros até porque sentir medo do vazio que o escuro esconde quando se esta feliz é inevitavelmente criação do homem-homem. Homem-homem, que por sinal é a sub-espécie mais medrosa que se pode ser classificada. Diz ai, ela própria tenta esconder ali no cantinho do armário, numa caixinha de sapato muito bem arrumada e classificada, juntos com as canetas, papeis e grampos. É muito mais fácil classificar e deixar morrer no tempo do que ser cutucado dia após dia por aquilo que incomoda mais que não nos livramos por...medo?! Posso chamar de farmácia da vida privada ? Ela normalmente está pronta pra ser usada como ambulatório receitando remédios indispensáveis a vida. Aracnofobia, para medo de aranhas, Claustrofobia em casos de ambientes fechados e o potente, mas importante Síndrome do Pânico para crises generalizadas...
Então a gente pode classificar assim: O medo ataca na vulnerabilidade que em vão tentamos esconder. Se a risada abafa os ecos que desprendem do escuro, ele vai lá e pronto, destila veneno na parte que mais dói: Os olhos, de cara a primeira percepção de escuro. Exemplo?! Toda santa vez que eu to lá toda menininha-feliz e me deparo com o corredor da minha casa (taí o meu monstro, o corredor) eu fico com muitooooo medo. É o bicho papão da felicidade, no meu caso. Só que como eu não posso mais dar as mãos para o escuro e sair brincando de esconde-esconde por ai, sabe q eu faço? Ligo a luz do corredor no primeiro interruptor, desligo no segundo e chego finalmente ao quarto. Afinal para o bem e para o mal, eu não sou mais criança, e como dá pra ver fiquei de mal como o escuro...não sei onde, mas sei quando... quando aprendi a ter medo e cresci.
"A noite é mais escura que eu" - Lygia Fagundes Telles
Menina de pano diretamente de A viagem de Chirriro
Sim, eu tenho medo de escuro, às vezes mais tenho! Pronto acabou, num doeu e sim vão rir da sua cara de otária chupando dedo, esperando pelo doce da vez, no caso a retórica familiar. Minha mãe, com ares de surpresa pela besteira que havia acabado de falar, simplesmente disse: Que isso menina, tem nada, você nunca teve medo de nada, desde pequena, nunca teve medo do Jason que você via quando era moleca, depois de esperar todos dormir... Meu pai foi pior. Riu da minha cara e ainda deu uma queixadinha claramente recriminatória “Que medo de escuro nada, ela num quer é fazer isso”.
Ai você diz, perai... Posso?! Mas será que não é permitido sentir um medo bobo? Tenho medo de escuro sim, porque cresci, porque criança não tem medo de nada em sua linda e pura inocência que chega inclusive a tocar o engraçado escuro, fazendo-o de amigo a cada porto, com a chegada da dor, do amigo que descobriu o esconderijo do pique, do beijo escondido. Crianças não enganam o escuro para viver nem inventam o fogo e a luz pra fugir dos monstros até porque sentir medo do vazio que o escuro esconde quando se esta feliz é inevitavelmente criação do homem-homem. Homem-homem, que por sinal é a sub-espécie mais medrosa que se pode ser classificada. Diz ai, ela própria tenta esconder ali no cantinho do armário, numa caixinha de sapato muito bem arrumada e classificada, juntos com as canetas, papeis e grampos. É muito mais fácil classificar e deixar morrer no tempo do que ser cutucado dia após dia por aquilo que incomoda mais que não nos livramos por...medo?! Posso chamar de farmácia da vida privada ? Ela normalmente está pronta pra ser usada como ambulatório receitando remédios indispensáveis a vida. Aracnofobia, para medo de aranhas, Claustrofobia em casos de ambientes fechados e o potente, mas importante Síndrome do Pânico para crises generalizadas...
Então a gente pode classificar assim: O medo ataca na vulnerabilidade que em vão tentamos esconder. Se a risada abafa os ecos que desprendem do escuro, ele vai lá e pronto, destila veneno na parte que mais dói: Os olhos, de cara a primeira percepção de escuro. Exemplo?! Toda santa vez que eu to lá toda menininha-feliz e me deparo com o corredor da minha casa (taí o meu monstro, o corredor) eu fico com muitooooo medo. É o bicho papão da felicidade, no meu caso. Só que como eu não posso mais dar as mãos para o escuro e sair brincando de esconde-esconde por ai, sabe q eu faço? Ligo a luz do corredor no primeiro interruptor, desligo no segundo e chego finalmente ao quarto. Afinal para o bem e para o mal, eu não sou mais criança, e como dá pra ver fiquei de mal como o escuro...não sei onde, mas sei quando... quando aprendi a ter medo e cresci.
"A noite é mais escura que eu" - Lygia Fagundes Telles
Menina de pano diretamente de A viagem de Chirriro
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