Crônicas Cotidianas

"As vezes a aula começa e termina sem ter realmente começado" dizia um professor de Sociologia que havia me dado aula na Universidade. E quantas vezes começamos conversas, ações, estudos e promoções sem realmente termos começado? Iniciando aqui com um comentário ou um palpite, discorremos sem realmente termos atingido o objetivo ou pelo menos a base do assunto que queriamos abordar. Interessante ver que fazemos isso mais do que percebemos, a começar pelas conversas cotidianas que temos com outros. Conversas que saem do nada e vão para algum lugar indefinido, onde provavelmente fica o Deposito Universal das Coisas sem Sentido. Falando temas irrelevantes, gastando funcionamento cerebral, cordas vocais e reflexão interpretativa de codigos sociais e morais, de maneira a traduzir pensamento em linguagem aceitável.

Aliás, isso diz muito da linguagem. Assim como "começar sem ter começado" o pensamento encara o mesmo principio. Ele inicia e fecha o ciclo do pensamento sem sair da nossa cabeça, pois precisa de um outro código de tradução que seja inteligivel aquele que irá ouvir o que será dito. A linguagem funciona como sistema de interpretação para o não dito, traduzindo, organizando, sendo carimbado pelo selo cultural a que nos reportamos, equacionando os defeitos interpretativos e enviando em uma abordagem simples e clara. Veja por exemplo neste momento. Você está ai perdendo seu tendo lendo esta coisa inútil. Que está cumprindo o papel proposto pelo post, de sair de nenhum lugar e ir a lugar nenhum. E que vai começar e terminar sem realmente ter começado. Isso vai sucitar pensamentos vários obedecendo os critérios mencionados, podendo inclusive passar pela barreira do pensamento e traduzir-se em uma frase qualquer, uma risada. Ou mesmo ficar no sistema de pensamento - o que definitivamente acontecerá mesmo se as minhas previsões derem errado. Começando sem ter começado.
Enfim... É claro que esse post saiu de algum lugar. Obvio, pois o nada não existe. Ele saiu da minha cabeça, passou pelo meus dedos e grudou em seus olhos para ser degustado. O sentido de sair do nada, neste caso, é a falta de discussão ou alarde prévio do que seria escrito aqui. Na verdade eu fiz o oposto. Olhe bem. Conversando com um amigo, lhe disse que escreveria este post sobre "Escapadelas Sociais" (como as vezes nós rotulamos determinados locais sociais - banheiros, pátios, varandas - como escapadas de situações incomodas). Debatemos o tema por alguns minutos. Cheguei a falar o dia que escreveria o post.

Ahá, olha ai. Eu não escrevi no dia que disse, mudei o assunto completamente - embora tenha acabado de aborda-lo aqui - e ainda por cima enchi o saco de alguem por alguns minutos falando sem parar. Coitado.

Quando não discutimos o tema com alguem, ele não se torna real. Não possui aparencia apreciável aos sentidos humanos, a não ser nós, os que pensamos no assunto a ser dito. Sequer é aceitavel pois não possui comprovação. Daí o lugar nenhum. Que é um lugar. O nenhum. Ahm, sim... como eu havia citado acima, o Deposito Universal de Coisas sem Sentido. E é pra lá que o seu pensamento está sendo carregado agora, pois você está tendo a leve impressão que após ler isso tudo... você não concluiu náda. Que este post foi realmente inútil. Se concluiu algo, párabens. Isso é um fenômeno aceitável, pois o concluido deve ter sido uma coisa sem sentido. Como este post.

Tchanám, consegui!


Menina de Pano possui acesso ilimitado ao Maravilhoso Universo das Coisas sem Sentido.

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