Algoritmos Nostálgicos
Não sou lá muito fã de séries/novelas. Acho cansativo me fidelizar a determinado conteúdo por horas, seja por indicação de amigos ou por possuir temática interessante. O interesse surge por diferentes motivos: a necessidade de refletir sobre certo tema; um escape divertido; um romance água com açúcar pra adoçar a vida; uma analise pedagógica e critica da ação humana. Independente da língua ou cultura, gosto de assistir a histórias. Isso me fez ver conteúdos extremamente diversificados como: "W" (Coreia do Sul), "Sherlock" (Inglaterra), "Lalola" (Argentina), "Além do tempo" (Brasil), "Mr. Robot" (EUA), "As mil e uma noites" (Turquia), "Windeck" (Angola), "Danger 5" (Austrália), etc.
Nas últimas semanas, dei a mão a palmatória e decidi assistir duas indicações de series. E não foi preciso assisti-las até o fim para me dar conta de que essas, entre outras, baseadas em algorítimos produzidas por plataformas de video on demand, muitas vezes preveem apenas repetições de tendências, não necessariamente inovações do ponto de vista de contação de história. O tal "risco zero" de perdas de audiências levou milhares de indivíduos aos cinemas para ver filmes como "Star Wars", "Jurassic Park" e tantos outros a ver "Stranger Things" e "The Get Down" (as séries que assisti), catapultando-os a fenômenos de uma reprodução que leva ao público reflexões, história e conteúdos condensados por músicas marcantes, referências iconográficas explicitas e inserções pontuais a temas da atualidade. Vistos de perto, se enquadram no terreno seguro da homenagem, entre o reboot, a nostalgia, a relevância e os gostos de determinadas faixas de audiência.
Pego como exemplo "Stranger Things", que talvez seja mais década de 1980 que a própria década, com crianças que pareciam ter saído de "Os Goonies" e "Conta Comigo"; com a figura emblemática do professor de bigode e o policial canastrão. Parece uma daquelas histórias entre o terror e a fantasia de John Carpenter e Steven Spielberg, dos filmes de estética high school a la John Hughes. Até a imagem marcante de Molly Ringwald aparece encarnada na personagem de Barbara Holland, se misturando ao som memorável de The Clash, Toto e Joy Division.
Sobre referências filmicas, Tarantino é mestre em mistura-las de maneira inteligente e instigante. Ele sabe exatamente como fazer filmes sobre filmes. Porém até ele parece ter cansado da técnica, decidindo aprofundar temáticas que antes não eram contempladas, dando agora apenas leves e certeiras pinceladas de influências cinematográficas em suas películas.
Não me levem a mal, os conteúdos citados são ótimos. Apenas não sei quanto tempo a tendência algorítmica fidelizadora perdurará, durante quanto tempo a nostalgia e a magia irá funcionar. Durante quanto tempo a Nostalgia será apenas Nostalgia.
Eu já saquei a onda e admito: mal começou e já cansei.
Prefiro mudar de canal e buscar o imprevisível.
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