Acertando Contos de Fadas.

Você já sentiu que poderia amar alguém por toda uma eternidade? Que esse individuo consegue resumir todos os seus sonhos? Já sentiu que ao lado da pessoa amada você não precisaria de mais nada para viver? E que tal aquela idéia de amar a ponto de sentir o coração doer de amor? De se doar infinitamente pelo bem, pela união, pelo amor? Já sentiu que como se a vida estivesse toda resolvida depois de encontrar o seu amor?

Já sentiu algum sintoma desses? Todos eles?

Eu também. E digo por experiência própria, nada disso é verdade.

Muito prazer, meu nome é Juliana, e eu não acredito em contos de fadas.

Faz tempos que esse assunto ronda a minha cabeça. Contos de fadas. Quando comecei a considerar a influencia dos contos da fadas na pisque feminina, assim como os seus efeitos conscientes e inconscientes, decidi rememorar a minha trajetória afetiva para entender de onde exatamente comecei a relacionar Contos de Fadas com as relações afetivas. Deixo claro que não sou psicóloga, estou longe disso. Mas isso não me impede de analisar racionalmente as relações humanas através do problema da consciência, quando envolvem sentimentos.

Bem, fazendo um resumo rápido. A minha trajetória sentimental se divide entre duas fases: Quando acreditava em contos de fadas e quando deixei de acreditar. Cheguei a essa conclusão depois de experiências que me apontaram que nas minhas ações passadas, eu me aproximava da figura da “donzela” que precisa ser salva pelo “príncipe” encantado. Aí a grande descoberta. Apenas precisei de certo distanciamento histórico e de um olhar neutro sobre o meu “eu” anterior para perceber o quão involuntário e ingênuo era o meu pensamento a respeito do que se esperar sobre relacionamentos. Sentimentais e interpessoais. A partir do momento em que essas ações se tornaram reais e palpáveis para mim, decidi investigar a cerne da solução. O que havia acontecido para haver o deslocamento da figura “donzela” para atual ainda sem rotulação mas previamente chamada de Juliana.

Descobri sem muita dificuldade, e nem precisei fazer muitas pesquisas. O ponto crucial de todos os problemas estava na falta do “eu”, que era substituído por um “outro", o “príncipe”. Como? O constante privilégio que eu dava ao “outro” vendo no “outro” a possibilidade de felicidade do “eu”. Uma substituição do “outro” pelo “eu”, uma cooptação das necessidades do “eu”, muitas das vezes beirando a submissão. Olha, vejam só. Isso me lembra sabe o que? Contos de fada! Cinderela, Bela Adormecida, Rapunzel, Branca de Neve, eram frágeis e submissas, parecendo quase como se houvessem sido criadas para esperar. E elas esperaram... Boa parte da História. Pois na realidade a história dos contos de fadas foca, a maior parte do tempo, na jornada do mocinho para salvar a mocinha. O príncipe no centro da História. Olha a interposição de papéis ai, e talvez como isso a ideia bata com um inconsciente infantil, que construiu sua visão sobre o “amor” espelhado no seu referencial próximo e continuo.

Todas as mulheres são assim? Não. Mas boa parte, e sem saberem.

Donas de casa, corretores de banco, prostitutas, gogo boys, financistas, empresárias, estudantes, casadas, solteiros, idosas, autônomos, empregadas, adolescentes. Ninguém está livre de pensar assim. O problema é como fugir da incoerência imposta pela necessidade salvação. Isso além de soar fantástico, soa cristão demais. A salvação pelo amor e pela fé cega. Peraí, nem Jesus quis dizer isso! Ele apenas disse que o amor posto em ação eleva os homens. Partindo de si, passando pelos homens e atingindo a Deus. Amai ao próximo como a si e a Deus acima de todas as coisas, disse ele. Esse Jesus, hein. Dando as cartas a mais de 2 mil anos e a gente ainda não aprendeu a jogar...

Okay, o amor salva. A submissão, a ingenuidade, o sentimentalismo não.


Então, respondendo as perguntas iniciais:

1- Não existe um amor para sempre. Para sempre é muito tempo, e ele existe para provar que que a vida se resume em amar, de diversas formas, a muitos. Quem sabe o mundo inteiro.

2- Resumir sonhos? Sonhos mudam. Pessoas também, inclusive nós.

3- Deixar a cargo de uma pessoa só toda uma vida é muito fardo. Seria bom dividir esse fardo com os demais. Familia, amigos, companheiros... Ser egoísta e ainda dar trabalho é complicado.

4- Quando doamos demais, ficamos sem nada. É ai que realmente a dor vem. E vem que vem forte.

5- Vida resolvida? Que baixa perspectiva de vida... Há tanta coisa pra fazer, tanto tempo pra viver!

O negocio é aprender a si amar. De um pé a bunda do príncipe (princesa) e seja a rainha do espetáculo, a história é sua e só sua. Chega de sentimentalismos. Não é ele que viverá a vida por você, sentirá ou amar como você irá. Não de presente o dom especial de ser você. Seja. Apenas isso. Mas seja razão na medida certa, querendo primeiro o bem para si e compartilhando com os demais. A balança equilibrada entre o coração e razão é uma medida ideal de se chegar, colocando em pesos e medidas iguais vontades, desejos e deveres. Quando o coração fala demais, pode tender a perda da identidade do eu. Quando a razão fala demais o eu infla seu ego. Então, vá, tome o projeto “eu” na mão e o coloque no quadro para análise. Ele sempre estará sujeito a mudanças, intervenções, reposicionamentos. Escreva os objetivos. Meça-os e deixe que o tempo, a vida e as relações se encarreguem de ajustar o nosso “sentir”. Mas lembre-se que você é que dá o tom.

Você acha ainda acha que existe alguém ai fora, perfeito para você?

Não se engane, porque pra começo de conversa, você não é perfeito(a). Então, tire os óculos cor de rosa e enxergue o “outro” como seu igual, com sentimentos e falhas. Seja segura do que quer, do que não quer... e siga. A vida ta aí para isso mesmo. A sua felicidade depende única e exclusivamente de você. Segure a suas vidas na mão e viva!


Menina de pano não acredita em contos de fadas, mas gosta dos desenhos da Disney.


Comentários

Lua Tinta disse…
Pô, ju, gostei do seu estilo de escrita, as vezes suprimindo pronomes e artigos! Fica um texto direto, forte! eu sou muito de usar artigos "a"... não sei o que; e também muitos pronomes "Eu"...etc,etc. Sobre o texto, acho que você demonstra atingir um certo equilíbrio entre razão e sentimento, eu, por minha vez, ainda não tenho esta estabilidade toda..rs. Mas como eu escrevi em um texto endereçado à uma pessoa certa vez sobre o amor, o sentimento, as vezes ele é "incontrolável se disciplinado apenas pela frieza da razão, inexplicável se visto somente pela perspectiva exagerada da paixão". Eis a busca da média na vida.
Fernando Fonseca disse…
Ótimos meios de reflexão...
Momentos em que devemos parar, pescar o melhor do nosso passado, limpá-lo, lustrá-lo e colocarmos em nossa estante, como um troféu: Superação.
Se isto não nos for útil, o que mais haverá de ser?
Você pode tirar o melhor proveito de tudo ou não. Só depende de você!
Vidas que seguem aprendendo a amar, em níveis e sentidos diversos.
Ao mais, do passado devemos apenas a gratidão pelo que somos hoje.
Um brinde à nós!

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