Medo do medo.
Uma onda de medo atravessa minhas sensações ultimamente. Mas não é qualquer medo. É um medo de raízes sociais, enterradas no mais profundo enlameado caldo cultural. Pressinto que de um momento para o outro, líderes de diferentes frentes religiosas, politicas, "ideológicas", econômicas e cibernéticas irão, como uma avalanche moralizadora, impor suas verdades, coagindo os outros através de maneiras possíveis. Através de leis, intimidações públicas, permissividade midiática, da influência do estágio avançado (e animalesco) de reprodução do capital. Através de uma sociedade ultra violenta, civilizadamente polida com um verniz selvagem - ao transportar as ações privadas para o público, com baixo senso ético, priorizando-o como visão pública do privado. Através de uma sociedade que impõe a negação ao próximo, substituindo-o por pequenas frases sem importância nos jornais, por moedas, entorpecentes (aquilo que entorpece os sentidos, o bom senso), jogando-os ao descaso, pela paranóia, pelo egoísmo, pela xenofobia e preconceito. Neste caminho que muitos de nós trilhamos, esquecendo de nós mesmos, entre a buscar pelo prazer incessante e o desespero pela vontade de vencer, de possuir cada vez mais. Insaciáveis dormentes.
Esse medo é avassalador. E não é sonho, é real e está acontecendo agora. Mas sua força, ainda não é uma onda incontrolável. É o quebra mar, em vai e vem contante.
Tenho a sensação de guardar esse medo de maneira latente, a espreita, nas sombras, esperando o momento certo para atacar. Esse medo é o eco das massas nas praças, que também sentem o rastro medo, ainda que inconscientemente, pairando no ar, logo atrás de nós. O grito por justiça, liberdade e amor que joga o medo contra o medo, vontades contra vontades, joga na nossa cara que nós somos os únicos responsáveis por produzirmos os causas e as consequências de nossas próprios medos.
Esse medo é o que conserva os poderes, que mantem dogmas, que tenta se eternizar numa vida em que a única certeza é ceder. Dar lugar, abrir espaço. Morrer. Talvez o grito, a marcha, a dor, anuncie desde já que o medo é o temor do futuro, é o orgulho em querer se conservar do desconhecido. O medo dá medo. Mas ao ve-lo empurrar homens para a aceitação, o respeito, a compreensão e o entendimento, o medo é o verdadeiro nome do progresso. Mesmo que "evoluir" seja ainda um projeto de um horizonte distante.
Por aqui, ainda lutamos, erramos, acertamos, e seguimos tentando pacientemente vencer o medo de cada dia. O santo medo de cada dia, que se converterá no remédio do amanhã.
Menina de pano mede o medo pelo nariz.
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