Dormem.
Livros me inspiram. Me vejo neles, me reconheço nos personagens de tempos em tempos.
Agora, o que não me escapa é o Bombeiro Montag de Fahrenheit 451.
A indiferença dos tempos futuros, a sensação de sermos enredados em fios tênues das teias socio-culturais, a insistência da "Familia", do fogo, os olhos poderosos que guiam a vida, a cidade, as casas. Tudo é rápido, é fugaz, é neutro na cor mas não no sabor. Cheio de sem-sentidos.
O perigo reside no outro, no poder do desconhecido, avulso e jogado sobre os Leviatãs da vez. Não importa o nosso rosto. O que importa é a guerra da imagem, a perda da palavra justa, o espectador do momento. Afinal, não se pode julgar um livro pela capa. Ainda sim, precisamos "queimar livros", correndo o risco de sermos queimados por eles. O livro da ignorância, da vaidade, da pobreza, da fome, do orgulho, do egoismo, pois aprendemos bem a ler estas paginas da vida, das quais não damos a minima importância em mante-los conosco. O bom homem é aquele que guarda para si, não o livro, mas a sua magistral essência que não deixa marcas.
Mas há o momento em que o fogo purifica até o mais belo livro, momento este em que deixamos o mundo dos livros, viraremos cinzas do passado, para nos tornarmos os livros do mundo. Quando isso ocorre? Quando o "comum" se torna sem sentido? Quando as expressões e os organismos da vida inspiram desconfiança? Quando a dormência nos atinge, ao ouvir os gritos dos homens palavrosos e alquimistas das novas fés?!
"Você é feliz, Montag?", pergunta a Jovem.
Não pelo fogo, ele responderia. Preferiu morrer para o mundo, queimando a si mesmo e sendo morto pela falsa imagem deixada para trás e nascer onde não se tem, onde apenas se é.
Menina de Pano vislumbra um terra sonambula assolada pela guerra do silencios.
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