Change*.
* Change - Do latim, mudanças.
A angustia dos novos tempos pode ser encarada como a materialização do supérfluo em substituição as aquisições destituídas de paradigmas simbólicos (realização do self) para os indivíduos. Talvez tal ideia se assemelhe ao que ouvi certa vez de um conhecido. Segundo ele a cristandade (o conjunto social fiel às seitas cristãs) materializou a mensagem de amor ao próximo e respeito a si mesmo. Destituindo-se do poder da mudança, o homem deixava a “cruz” do sacrifício pessoal para finalmente encarnar na terra da falta de compromisso para com o outro. E por conta próprio saiu a explorar as possiblidades de vida que o entorno oferece. Nada de absurdo, até aqui. A vontade de atingir o não atingivel é utópico para o homem. Visto que o desconhecido (mudança) é excitante porém temível, pois pode alterar a disposição e a ação do ser no sentido inicial. Um passo a frente e você não está mais no mesmo lugar, dizia Chico Science.
As primeiras formações cristas (ainda me reportando a fala anterior) foram tenazmente combatidas pelo poder romano, que via nelas uma ameaça ao governo, aos cultos sócio-políticos e a economia do Império. Isso não impediu delas crescerem. Tanto cresceram e se alastraram pelo ocidente, que chegaram a povoar os sonhos supersticiosamente cristãos de Constantino I, que estando sob a sombra de uma cruz ouviu o chamado divino. “Sob este símbolo, vencerás”. Veni, vindi, vici. Vim, vi e venci.
Constantino adotou o cristianismo como uma das formas aceitáveis de culto, não só pelos sonhos. Seria ingenuidade aceitar somente esta explicação. O cara era estrategista. Strategy, strategia, stratégie, estratégia. Sim, ele queria uma porção de línguas sob o seu domínio e via na promessa cristã um meio de atingir os povos. Sob seu domínio estariam terras, aumento de moedas em circulação, impostos, investimentos, controle social. Iupi, que esperto.
Os Concílios cristãos, a partir do de Nicéia (325 d.c), foram sufocando cada vez mais o credo religioso em uma cerimonia régia, hierárquica, formalmente padronizada e burocrática. O corpo católico pode ser considerado como a primeira formação administrativa e econômica sólida e duradoura de relevância nos primeiros séculos sob a égide do Cristo. Provavelmente sua formação inspirou as aglomerações socio-culturais e politicas comuns, mais tarde conhecidas como os Estados Nacionais.
Não obstante, o que era “vivo” se apagou. Quer dizer, se pagou. Indulgencias, graças, morte, nascimento, casamento, terras, trabalho. Na vida, austeridade e usura. Para aquele que morreu por nós na cruz, o que podemos doar para a graça de Jesus. (Jesus e Deus na cristandade se confundem, são, em determinadas passagens, a mesma pessoa). Coitado dele. Ele ali, sofrendo sempre e nós, indo embora após mentiras e pedidos formalizados com um amém. Isso não muda nada, certo? Você mudou? Perdeu tempo e dinheiro, é certo. Fora isso, os erros permacem arquivados nos tribunais da própria consciencia. Mudar demanda esforço, suor, caridade para com os demais, para consigo. Amor, paciência, perdão. Perdão ao próximo, não do "outro" para contigo. Alguém, a não sermos nós, sabe os sabores e dissabores de saber o que é sermos “nós”? Acho que não. Posso estar errada. Porém, nada muda o fato de que Jesus ainda está lá a nossa frente. Pregado na morte ou como símbolo de vida. Porque ele foi um exemplo (documentado e testemunhado) de tudo o que deixamos para que o outro realize por nós. Admitamos. Porque materializamos desejos e egoísmos de maneira a mascarar o que somos orgulhosos demais para admitir. Erramos. E somos os únicos responsáveis por mudar o erro para acerto. E ninguém, sequer Jesus fará isso por você. Campeão, é contigo mesmo.
E vou te dizer algo que você provavelmente já sabe. Mudar é difícil. Mas ninguém disse que a vida seria fácil. Se você quiser facilidades ajoelhe e diga amém. Ou pague 10% do seu salário.
Auto-análise, o auto-conhecimento construtivo? Pra quê, eu sou feliz do jeito que sou. Não tenho que mudar nada. Mudar? Progresso? Não preciso de nada disso. Ahm... Jesus morreu por nós. Já nos salvou.
Claro.
Auto-análise, o auto-conhecimento construtivo? Pra quê, eu sou feliz do jeito que sou. Não tenho que mudar nada. Mudar? Progresso? Não preciso de nada disso. Ahm... Jesus morreu por nós. Já nos salvou.
Claro.
Faço das reflexões da música de Pedro Luís as minhas. Nós vamos tirar Jesus da Cruz, porque ele tá pregado naquele pedaço de pau há mais de dois mil anos! Vamos deixar seus pés e mãos livres. Que ele vai pular, dançar e fazer muito melhor”. Muito melhor ao homem, em meu entendimento. Do fim da era de culpa, para a ação em prol da felicidade humana. Da própria felicidade. Partindo de você e voltando para você através do outro, do mundo.
Change. Mudança. Mudanças.
Do que foi reportado como evolução do Cristianismo, temos um bocado de mudanças estruturais. Provavelmente surgidas em momentos-limite de vigência da ordem pré-estabelecida. Ou ocorrem mudanças estruturais para acomodar o progresso, ou o sistema poderia ser carregado pela maré de novas ideias. Percebam, a igreja foi exemplo em adaptar credos e cultos, a ser receptiva com potenciais fiéis a sua forma durante muitos e muitos séculos. Para novos fieis, Concílios modeladores. Para o descontentamento de Lutero, reforma católica. Para indígenas não colonizados pela lógica mercantilista portuguesa, padres dóceis, relaxamento das regras eclesiásticas. A melhor palavra que encontrei para descrevê-los seria: Anatômicos. Indivíduos adaptados e adaptáveis. Porém isso não significa que a mudança é sempre bem aceita. Para ambos os lados. Do que aceita, do que a realiza.
Temo ai uma metodologia que representa fielmente a malha humana. Uma contradição pulsante no seio social. A igreja era (e ainda é) a associação em macrocosmos do homem. Afinal os homens nada mais são que suas instituições. Em um mesmo “ser”. Terno, fiel quando aceito. Infantil e selvagem quando não aceito. Mas em eterna transição. Detentor do poder de mudar e moldar-se. A mudança é uma pedra no sapato. Precisa-se arriscar a tirar o pé do sapato (e talvez perde-lo) para que a pedra saia. Doi, incha e quando não há mais remédio a tira.
[Engraçado. O pé fica no escuro do sapato com medo da claridade. Persiste no sapato, pela pretensa segurança de conforto, mesmo que doloso. Quando não há mais como pisar, enxerga a luz, destrói o desconforto. Mas ao invés de manter a luz do dia como chão, volta a encarar a escuridão, toda vez que se sente ameaçado. No egoísmo de manter o não durável. Um dia o sapato fura, se gasta, se descuida e vai embora não restando nada menos que a própria luz. Eis a angustia de se querer se manter o que não se pode. Se alguém conseguir carregar a fortuna humana para o além-túmulo (escolha para onde irão: inferno, céu, paraíso, mundo espiritual, nirvana, purgatório, morada do Senhor), mandem avisar as Igrejas: É um milagre.]
Chegamos ao momento limite mais uma vez. Fim do século XVIII, inicio do XIX. Ége des Lumière. La Science. O corpo Cristiano não esperava pela Deusa Ciência. Nos séculos anteriores havia sofrido perdas irreparáveis ao ser duramente atacada pelos Protestantes. Ver os protestantes competirem pela detenção do conhecimento humano-filosófico. Naquele momento chave, a Igreja se fechava em couraça rígida. Mas a Métis (do grego, astucia), a Ciência, é sinônimo de inteligência, esperteza, conhecimento. Ela foi a responsável por fundir um rasgo profundo nas chagas do método Cristiano. E se tornou a Garota do Momento. Já é sensação, geral com o método positivista na mão.
Só que nem tudo são flores no canteiro da Ciência. Seu reinado é notavelmente mais curto que a Deusa Anterior e desde sua consolidação enfrenta a religião como rival. E quem foi que disse que a Ciência que ela não pode se unir a religião? Quem foi orgulhoso o bastante para afirmar que natureza, materialidade e evolução não são porta vozes do conhecimento? E porque a religião não pode se unir a Ciência? Vamos lá. As comprovações cientificas estão ai para o mundo ver. Meninas orgulhosas. Não querem dar o braço a torcer, sendo que juntas poderiam unir forças.
Deus não joga dados, certo? Responderam "Não digam a Deus o que ele deve fazer". Não digam a ciência o que ela pode restringir. Não digam a religião o que ela pode restingir. Elas não podem engarrar a vontade humana de promover o bem. Nem de expressar suas paixões. Elas não são detentoras do conhecimento supremo, embora o ego humano tente manipula-la para essa direção. Elas podem, mas somente a razão destituida de paixões, vicios e orgulhos humanos pode determinar o que é certo, errado e ideal para o ser as restinge. Eis o juiz da consciencia, você. Infelizmente, somos péssimos juizes. Ainda bem que não há sentenças definitivas!
Deus não joga dados, certo? Responderam "Não digam a Deus o que ele deve fazer". Não digam a ciência o que ela pode restringir. Não digam a religião o que ela pode restingir. Elas não podem engarrar a vontade humana de promover o bem. Nem de expressar suas paixões. Elas não são detentoras do conhecimento supremo, embora o ego humano tente manipula-la para essa direção. Elas podem, mas somente a razão destituida de paixões, vicios e orgulhos humanos pode determinar o que é certo, errado e ideal para o ser as restinge. Eis o juiz da consciencia, você. Infelizmente, somos péssimos juizes. Ainda bem que não há sentenças definitivas!
Inclusive quando se trata de um conceito. Religião é um termo parco e mal ajustado aos tempos atuais. Melhor. Ligeira modificação de sentido. Tratemos de Religare (ligar o homem a Deus, ao amor se preferir) a ética, a moral de amor ao próximo, a filosofia existencialista e humanística em favor das criaturas. Enclausurar em Academias (abadias do novo século) e sacerdócios vulgares (escolas) o conhecimento, a filosofia, para que ela não se contamine pelo amor edificante e pela ética da ação do bem, da razão (ora ora ciência, estaria ficando cega pelo ácido corrosivo de não ceder as mudanças?) em favor das criaturas e em prol da mudança e progresso do homem seria um contrassenso. Afinal, a ciência está ai para o bem material dos homens. Mas o homem só vive de matéria? A vida humana apenas se fortalece por essa parca e única via? A vida material não tem um limite, que gera mudança? Que impulsiona além da matéria, meio que desconhecemos por estar adiante?
Um coração com apenas uma artéria, uma saída. Isso é pressionar demais a máquina da vida. Isso é desmerecer o potencial humano paras alternativas da vida. É ciência, algo falta. Alguma coisa está fora da ordem. Afinal, o homem deixou de ser infantil e não mais crê que está sozinho. Crê que vive em conjunto, que produz em conjunto, que só é feliz unido. Unindo quem nos une para sermos cada vez melhores. Pelo fim da angustia, pelo bem da humanidade.
Não? É... mudança nela.
Menina de pano canta com Bowie. “Time may change me, but I can´t trace time”*.
(O tempo pode me mudar, mas eu não posso enganar o tempo*) Mudanças. Sim ou Sim.
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