Folia de Reis

Vi a sombra colorida na parede de relance. Olhei na janela e todos olhavam naquela mesma direção. Vinha dali. Era colorido, bonito no meio do cinza e quase transparente, mas tava ali no meio de todo mundo se amostrando pra quem quizesse ver. Corri pra ver.Queria muito muito mesmo ver. Fechei a porta, subi, passei pelo obstaculo no chão e pronto, tava ali, mas como bonito era mesmo e olha que nem fazia frio, ventava e aqui fazia calor quando eu vi que ali tinha mais. Tá, tinha visto, lógico, mas não daquele jeito, daquele jeito tava chamando, e olha nem tinha ido ali pra ver aquilo.Olhei e vi que era tempo. Tempo de ver e o clima era de despedida. Subir só foi uma desculpa, o colorido também, aquilo não. Não dava pra fugir nem que quisesse, mas não queria. Queria ficar ali, todo mundo sabia. Eu, quem diria também sabia. Era tempo, como era tempo. Ele entendeu, eu entendi e praquela hora ele se mostrava bonito e saudoso, contando que agora tava na hora de passar as mãos adiante. Tudo ali era plenitude. A cor, a forma, o vento, a saudade. Aquilo tava declarado a tempos e a cada minuto sabiamos disso. O fim diante de mim. O fim do fim.Era hora de partir sim. No principio o desespero, o que mais fazer?! Choro vindo, o coração acelerado e o desepero de ver aquilo indo embora, que precisava ir embora, que tinha que embora, indo embora mesmo. Era de se esperar um ensaio, um fino trato e todas aquelas frases decoradas, mas não, foi como disparada.Mas que besteira, onde já se viu, menina, pra dar tchau o aviso não supera a ida, a ida é ela e dela não vai sair palavra que queira ouvir de volta. Só...ida.Ia saindo, a lágrima contando as vezes de se engolir e de se falar, dizendo que enfim o que dava medo era não ver aquilo ir embora. Então era melhor assim mesmo, de saudade eu queria era a partida, mas da paciencia que vi as coisas daqui era de se esperar consetimento. Pode ir sim, quero que vá, e que vá, não tire ninguem de casa, deixem eles lá, mas não só por mim...vá e não fique sempre em um só lugar.

Obrigada.

Aos poucos indo embora agora, o trem passando, as luzes piscando...sorri. Despedida boa essa hein que passaram pra avisar, então. Vá e leve a paz no sorriso. O meu fica aqui bem guardado. Agradeço por ter ficado, agradeço e só sei agradecer de olhos fechados que é sinto que aqui tá tudo certo, então faço uma prece e você então vai.

Espero você ir, de olhos abertos.Agora, espero.

Não vou sentir saudades, vou ter saudades pra matar em outro lado, de outro lado. Isso merece referencia porque contou os dias que faltavam, conversou pelas palavras que tinham aqui e não me esqueceu de avisar a hora de dormir.

Uma reverencia e eu fico em paz.

Você vai e eu fico aqui nova sem você, com outras coisas pra criar, com uma dança pra dançar. Prassim respirar bem fundo e me deixar dizer que o que foi só foi você. Só você. Eu fico aqui rindo feliz indo de peito aberto, fico fazendo novas idéias, fico pra só olhar e ir embora pra uma nova casa e algumas histórias no bolso pra contar. De olhos abertos.

Menina de pano num dia de saudade, alegria, paz e agradecimentos.